O PSB aprovou, em reunião da executiva nacional, que a sigla negocie a formação de uma federação com o PDT e o Solidariedade, dois partidos trabalhistas. A federação valeria para as eleições de 2024 e 2026, unificando os caminhos das três legendas nesse período.
PSB e PDT são partidos históricos e tradicionais do campo de esquerda no Brasil, tendo sido casa de dois dos maiores líderes da esquerda nacional. Miguel Arraes, do PSB em Pernambuco, e Leonel Brizola, do PDT do Rio de Janeiro. Apesar do peso histórico, os partidos foram se afastando gradativamente da raiz mais à esquerda.
O Solidariedade, por sua vez, é o partido criado em 2012 e liderado por Paulinho da Força Sindical e tem como tradição apoiar os projetos da centro-direita junto à classe trabalhista. Apoiou o PSDB nas candidaturas à presidência de Aécio Neves em 2014 e Geraldo Alckmin em 2018, tendo optado pela neutralidade na disputa entre Marcelo Haddad e Jair Bolsonaro no segundo turno de 2018.
No processo de golpe à presidenta Dilma Rousseff, Solidariedade e PSB apoiaram o golpe, enquanto o PDT se posicionou contra, apesar disso, um terço dos seus deputados votaram favoravelmente ao golpe. Assim, dos 64 deputados que os partidos tinham na Câmara Federal de 2016, 49 apoiaram o golpe.
Assim como o Solidariedade, os outros dois partidos tiveram posicionamentos ou membros flertando com a campanha de Bolsonaro em 2018. No PDT, que lançou Ciro Gomes no primeiro turno, três dos quatro candidatos a governos estaduais apoiaram Bolsonaro. Naquele ano e em 2022 Ciro também foi importante vocalizador de um discurso que tentava aproximar Lula e Bolsonaro.
O PSB ficou neutro no primeiro turno de 2018 em vez de apoiar a candidatura do PDT, fato que se atribui a uma negociação com o PT para retirada da candidatura do partido ao governo de Pernambuco. No segundo turno, o partido apoiou Haddad, entretanto, apenas João Capiberibe dos quatro candidatos do partido que disputaram o segundo turno seguiram isso. Márcio França, Rodrigo Rollemberg e Valadares Filho optaram pela neutralidade.
A federação é vista como um esforço dos partidos para se tornarem um bloco de esquerda que consiga fazer frente ao PT nas próximas eleições, e tentar evitar o encolhimento que suas bancadas vêm sofrendo. Para ilustrar o problema, a soma dos deputados federais dos três partidos é de apenas 34 parlamentares, muito distante dos 64 deputados que esses partidos tinham na votação do processo de impeachment de Dilma.
O texto publicado pelo PSB enxerga na polarização um dos grandes desafios do partido em 2022, “as instituições que se posicionam na centro-esquerda, como o PSB, PDT, dentre outros, sofreram um revés eleitoral, por não se adequarem bem a uma disputa em que o eleitor é levado a escolher uma entre duas visões de mundo completamente antagônicas e irreconciliáveis”.
O documento ainda evidencia a grande expectativa que o partido deposita no vice-presidente para a reestruturação do partido, sendo esse um dos principais pontos fortes. Dos pontos fracos, a “enorme insuficiência de estruturação do partido na maioria das secções estaduais”, a “fragilidade ideológica observada mais agudamente nas duas últimas legislaturas”, e um eleitorado “mais conservador e mais conectado com temas como a religião, costumes” foram evidenciados pelo documento. Frustração de votos em muitas candidaturas, orçamento secreto, 7 partidos disputando o eleitorado de esquerda também se destacaram como problemáticas para o partido.
O documento alerta aos dirigentes da necessidade em já constituir comissões eleitorais visando a viabilização de êxito eleitoral nas eleições municipais de 2024, com foco na construção de programas que demonstrem o compromisso com minorias políticas e capacidade de viabilizar políticas que o projeto nacional de desenvolvimento que o partido defende.
No final do documento, assinado pelo presidente da sigla, Carlos Siqueira, o texto afirma que “o PSB deve se transformar, portanto, não para ser outro, ou “fazer mais do mesmo”, mas justamente para tornar realidade a utopia sempre posta do socialismo com liberdade, que nos orienta desde a fundação do partido bem como o novo conceito de Socialismo”. Esse ponto parece ignorar que o partido tem recebido políticos que pouco podem colaborar nesse rumo.
Recentemente, o PSB filiou os senadores Jorge Kajuru, Flávio Arns e Chico Rodrigues com o intuito de aumentar a bancada no senado, passando de 1 para 4 senadores. Os três novos “socialistas” são conhecidos por manterem forte relação com o bolsonarismo. Bolsonaro afirmou que mantinha “quase uma união estável” com Chico Rodrigues, que recentemente escondeu dinheiro na cueca. O senador também defende o garimpo ilegal em terras Ianomâmis, atividade criminosa violenta que ameaça a existência do povo indígena.
O esforço faz sentido para a sobrevivência desses partidos, mas talvez fique distante de conseguir fazer frente ao PT na esquerda. Além de o PT possuir, sozinho, o dobro de deputados federais que os três partidos possuem, o Partido dos Trabalhadores consegue estabelecer uma relação de maior estabilidade e coerência ideológica, o que deveria ser o foco principalmente do PSB e do PDT.
No aspecto ideológico, o posicionamento e ações do PSB parecem subestimar a capacidade de aceitação de políticas de esquerda junto à sociedade e que a diminuição do espectro nas casas legislativas são consequência do golpe de 2016 que o partido apoiou. Apesar de reconhecer minimamente a incoerência ideológica, sem citar o golpe, o partido parece não compreender que é necessário garantir ao eleitor credibilidade ideológica.
É fato que o flerte com a direita não foi realizado por casos isolados, mas por uma parcela majoritária no PSB. O partido encolheu pelo cenário no qual perdeu credibilidade e favoreceu o fortalecimento e alianças com a direita. O partido perdeu quadros para outros partidos, como o ex-senador pernambucano Fernando Bezerra, que migrou para o MDB e foi líder do governo Bolsonaro no Senado.
O PSB precisará mais do que uma federação com partidos que gozam de desconfiança do espectro de esquerda para se reorganizar. É necessário praticar e anunciar uma visão política que de fato priorize setores populares e consiga garantir aos eleitores fidelidade não às alianças, mas ao que é ser de esquerda.