Desde que a operação Lava Jato passou a focar na esquerda brasileira, o espectro encontra dificuldades para conquistar prefeituras em todo o país. Embora tradicionalmente não predominasse nas eleições municipais, a esquerda tem reduzido o número de prefeituras a cada ciclo eleitoral desde o auge de 1.533 prefeituras em 2012, impulsionado pela popularidade do PT.
Durante a Lava Jato, o PT e a esquerda enfrentaram uma série de perseguições marcadas pelo uso do judiciário e da mídia hegemônica. Esse cenário, somado às interferências de Sérgio Moro (União) e de aliados, resultou no controverso impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e na exclusão de Lula (PT) da corrida eleitoral de 2018, o que facilitou a vitória de Jair Bolsonaro (PL). Esses eventos mudaram o cenário político e interromperam o crescimento da esquerda, que viu seu número de prefeituras cair 22,3% em 2016 e 27,5% em 2020.
Nas eleições deste ano, a redução no espectro foi menor (12,8%), enquanto o PT aumentou seu número de prefeituras em 37% e o PSB em 24%. Em contraste, partidos como PSOL e PDT registraram perdas expressivas: o PDT teve queda de 53% em suas prefeituras, especialmente no Ceará, enquanto o PSOL perdeu todas as prefeituras conquistadas anteriormente.
O PT também cresceu no percentual da população brasileira que vivem em cidades governadas pelo partido a partir de 2025, atingindo cerca de 5% da população brasileira, um crescimento de 73% para o partido. Nesse índice o PSB alcançou um crescimento de apenas 3%, atingindo aproximadamente 4,3% da população.
Nas câmaras municipais, a esquerda também registrou uma redução no número de vereadores eleitos, embora menor, de 5,7%. Mesmo assim, o PT aumentou em 16,6% o número de vereadores, o PSB em 18,7% e a Rede em 14,7%, enquanto o PCdoB teve a maior queda, com 51%.
Apesar de o cenário atual estar distante do auge da esquerda, há um processo de reconstrução em curso, especialmente no PT e no PSB. Para partidos de esquerda, diferentemente dos pragmáticos com pouco compromisso ideológico, a prioridade não deve ser aumentar prefeituras a qualquer custo. Em determinadas circunstâncias, é mais estratégico apoiar candidatos de centro, como no Rio de Janeiro, do que incorporar quadros desalinhados com a ideologia partidária, prejudicando a consistência política.
Na Bahia, por exemplo, o PT, apesar de deter o governo estadual e eleger apenas 50 prefeitos, lidera uma coalizão com outras forças políticas que, juntas, conquistaram 310 das 417 prefeituras do estado.
Em um panorama mais amplo, é urgente que os partidos menores revisem suas estratégias, pois arriscam perder relevância ou não conseguirem financiar suas campanhas sob as atuais regras de financiamento. O PSOL, mesmo sem prefeitos eleitos e com apenas 80 vereadores, encontrou um caminho para eleger deputados federais nos grandes centros urbanos e manter sua estabilidade financeira. Já partidos como PCdoB, PV e Rede precisam com urgência encontrar alternativas para sobreviver.
Afirmar que a esquerda vive bons tempos seria ilusório, sobretudo após o retorno recente da extrema-direita ao governo federal. É essencial reconstruir trajetórias, renovar lideranças e alinhar-se às mudanças sociais, sem perder o norte ideológico. A direita não deixou de ser direita para avançar no país; ao contrário, ela reafirmou suas convicções. Portanto, a esquerda não precisa se tornar menos vermelha; talvez deva ser mais flexível, mas jamais abandonar o que a diferencia dos demais projetos políticos. Não é questão de ir ao centro, mas de se aprofundar em sua própria identidade.