
Iran Barbosa (PSOL) retorna à Câmara Municipal de Aracaju em meio à ascensão da direita no cenário político de Sergipe e da capital. Em entrevista ao Sergipense, ele analisa os desafios enfrentados pela esquerda, destacando a necessidade de um debate qualificado e pedagógico para esclarecer à população as diferenças entre os projetos defendidos pela esquerda e pela direita.
A entrevista foi dividida em duas partes. Na primeira, Iran analisa o cenário político atual, as condições do magistério e sua relação com a prefeitura de Aracaju, sob a administração de Emília Corrêa (PL). Já na segunda parte, ele aborda o desempenho eleitoral e o planejamento do PSOL para 2026, além da representação do magistério na política e seu futuro político.
Parte 2
A segunda parte inicia com uma avaliação sobre o desempenho do PSOL nacionalmente, que viu seu tamanho diminuir na última eleição. O vereador entende o resultado como um reflexo da crise do capitalismo, que decidiu apoiar projetos anti-democráticos, e ressaltou que o PSOL, apesar das dificuldades nacionais, conseguiu manter e até ampliar sua representação em Sergipe, elegendo vereadores em três municípios: Aracaju, Estância e Japaratuba. “Aqui em Sergipe eu diria que nós conseguimos manter o tamanho que nós tínhamos e conseguimos crescer na capital. Dobramos, saindo de um para dois vereadores”, afirmou.
Iran entende a dificuldade de o PSOL conquistar capilaridade no interior sergipano, por ser uma política mais complexa, mas comemorou que o partido conquistou uma cadeira no Legislativo de mais um município - Japaratuba - na última eleição. Para Iran, o crescimento do PSOL em Sergipe não deve ser acelerado, deve ser orgânico e sem inchaço.
Sobre as metas do PSOL para os próximos anos, Iran destacou a importância de fortalecer a organização partidária e ampliar o diálogo com outras forças de esquerda. Questionado sobre uma possível aliança com o PT para enfrentar o projeto neoliberal liderado por Fábio Mitidieri (PSD), o vereador foi breve e afirmou que são partidos com táticas muito bem definidas e que, apesar de manter conversas, isso dificulta a formação de uma aliança.
Ao abordar a ausência de representantes do magistério na Alese, Iran foi enfático ao afirmar que isso dificulta a defesa das pautas educacionais. “Eu posso dizer isso primeiro como membro da categoria e eu fui dirigente do Sintese sem a gente ter representação do magistério na tribuna da Assembleia Legislativa. Era doloroso”, desabafou. Ele lembrou conquistas históricas, como o piso salarial nacional, e reforçou a importância de ter parlamentares orgânicos da educação.
Por fim, ao ser questionado sobre seus planos para 2026, Iran Barbosa disse que ainda não há definições: “disputando ou apoiando, estarei incidindo fortemente, dentro dos limites que posso, sobre o cenário de 2026”, concluiu.
André Carvalho (A.C.) Na última eleição, nacionalmente, o PSOL interrompeu a linha de crescimento; viu o número de prefeitos ir a zero e de vereadores reduzir de 93 para 80. Como o PSOL avalia esse resultado nacional e o que isso significa para a estratégia do partido em Sergipe? Há uma revisão das estratégias em curso?
Iran Barbosa (I.B.) Não diria que há revisões de estratégicas, acho que a gente precisa é pensar as táticas de disputa eleitoral. Aqui em Sergipe eu diria que nós conseguimos manter o tamanho que nós tínhamos e conseguimos crescer na capital. Dobramos, saindo de um para dois vereadores - eu e a professora Sônia Meire. Então, acho que tem que pensar, mas, se você for observar, é um momento desafiador para todo campo da esquerda. Se você for ver, nós, que militamos no campo da esquerda, sabemos que é um momento de muito desafio para o movimento social, para o movimento popular, para o movimento sindical, para os partidos de esquerda. Nós estamos vivendo no mundo um aumento de tentativa de imposição de um modelo político que sempre esteve disputando conosco, que é um modelo excludente.
O capitalismo vive uma crise muito profunda, e quando ele está vivendo essa crise profunda ele fica exercitando alternativas para se oxigenar. E, em alguns momentos, a alternativa foi o totalitarismo, historicamente isso é comprovado. Então, anda e vira o capitalismo recorre a essas alternativas. Quem está no campo da esquerda defendendo a democracia, defendendo políticas públicas que atendam a necessidade da maioria da população, e não essa política que tem cada mais concentrado cada vez mais riqueza nas mãos de menos pessoas, e são essas pessoas que hoje dominam inclusive as tecnologias disponíveis, as redes de comunicação disponíveis e, portanto, colocam a sociedade a serviço dos interesses dessas minorias extremas.
Então, nós não queremos esse modelo, mas estamos enfrentando um momento que desafia a esquerda. O PSOL também sofre as consequências disso. Agora, eu acho que nós temos mantido um papel importantíssimo, temos crescido como representação popular. Acho que o PSOL tem ajudado bastante o campo da esquerda a debater questões que são muito candentes, questões que são muito especiais. O PSOL é um partido muito vinculado às lutas mais ligadas com segmentos da população que sempre são muito discriminados e isso nos dá uma vitalidade muito interessante. Estamos nos construindo, vamos ver o resultado tudo isso.
Agora, quero dizer que sim, sempre é tempo de nós estarmos avaliando estratégias, táticas, avaliando ações e esse final de semana [15 de fevereiro] o nosso diretório nacional vai estar reunido discutindo essas políticas. Eu participei recentemente em São Paulo de um encontro de vereadores eleitos do PSOL onde fizemos também esse debate. Aqui nossa corrente, a primavera, fez recentemente atividade de planejamento, com participação de dirigente nacional. Então nós estamos também cumprindo a tarefa de avaliar todo esse cenário e encontrar caminhos.
(A.C.) Em Sergipe, o PSOL conseguiu eleger vereadores apenas em 3 municípios (Aracaju, Estância e Japaratuba). Como esse resultado foi compreendido pelo partido?
(I.B.) Sem dúvida que um partido quando começa, como nós estamos começando, que tem princípios para se organizar, sofre evidentemente algumas dificuldades, sobretudo no interior. Você e todo sergipano conhece como é que funciona a política em Sergipe, na capital e no interior. No interior nós temos situações bem mais difíceis de enfrentar. Mas nós, inclusive, crescemos, porque antes nós tínhamos representação em dois municípios — em Aracaju, Estância. Hoje, além de termos Aracaju e Estância, nós temos também uma representação no município de Japaratuba. Isso também nos faz ampliar o horizonte. Mas temos hoje já organizado em vários outros municípios companheiros que estão ajudando a fazer crescer e alimentando ali aquela sementezinha. Sou daquela tese, como eu venho de uma matriz partidária que foi se construindo ao longo de muitos anos e de décadas, eu acho que as coisas para serem bem feitas elas não podem ser inchadas, elas têm que crescer sem ser inchadas.
(A.C.) Quais as metas do PSOL para os próximos anos em Sergipe?
(I.B.) Aqui nós temos, sem sombra de dúvida, que perseguir algumas questões, uma delas é continuar incidindo, para mim essa é a principal, incidindo fortemente na luta do povo, estimulando, ajudando, contribuindo para que a luta popular ela seja uma luta bem sucedida. Eu acho que essa talvez seja a principal tarefa que nós temos nesse momento desafiador que atravessamos. Mas é claro, a partir daí, também precisamos avançar no nosso processo organizativo, nosso processo de crescimento na capital e no interior, no nosso processo de diálogo com outros do campo da esquerda, os campos partidários, no nosso processo de avanço e de conquistas nos espaços disputados de poder — isso faz parte também de qualquer partido político que se organiza. Acho que são os desafios que nós precisamos estar enfrentando nesse período desafiador.
(A.C.) Nas últimas eleições, de 2022 e 2024, o PSOL não realizou aliança com o PT. Chama atenção porque PT e PSOL são os dois partidos de esquerda que puxam um movimento de oposição ao projeto neoliberal de Fábio Mitidieri. O que explica a falta de alianças entre PSOL e PT em Sergipe?
(I.B.) Nós chegamos a conversar, mas como se trata de dois partidos que muitas vezes têm projetos também definidos, de táticas eleitorais bem alinhadas, bem definidas, às vezes não se consegue fazer a amarração dessas táticas. Mas eu alimento a expectativa e a esperança de que esse é um campo que nós precisamos continuar insistindo no enfrentamento a esse campo da direita.
(A.C.) Em 2023, após 20 anos possuindo representação na ALESE, o magistério sergipano não possui mais representantes no legislativo estadual. A ausência de representantes do magistério na ALESE dificultou as pautas da categoria?
(I.B.) Eu acho que qualquer avanço que a gente conseguiu no campo da educação teve a ver também com um avanço da organização do magistério. Por exemplo, eu sou de um tempo em que nós conquistamos coisas importantes, a começar pela LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação]. A LDB, embora não fosse a que sonhávamos, mas ela foi fruto de um processo amplo de discussão e que nossas representações, sindicais, parlamentares estavam presentes, atuando fortemente para que as coisas acontecessem.
Conquistamos avanço no campo da gestão democrática nos municípios, em alguns estados, leis que avançaram nesse processo. Conquistamos o direito ao nosso plano de carreira. Isso foi uma luta grande aqui em Sergipe, inclusive uma luta difícil porque em 2021 não teve greve prolongada, teve corte de salário, teve corte de consignação para o sindicato, mas lutamos, resistimos e conseguimos. Nós conseguimos o piso salarial, eu, com muito orgulho, lembro que era deputado federal quando a gente conquistou isso. Então, a presença de parlamentares da educação nos espaços de definição, evidentemente ajuda, porque você tem um representante orgânico ali discutindo, trabalhando.
Contudo, isso não significa dizer que não tem outros aliados nossos que cumprem papel importantíssimo, mesmo sem ser da área da educação e que não possam contribuir. Claro que eles podem contribuir, mas é diferente. Aí você pergunta: faz falta? Faz! Faz muita falta. Eu posso dizer isso primeiro como membro da categoria e eu fui dirigente do Sintese sem a gente ter representação do magistério na tribuna da Assembleia Legislativa. Era doloroso. Porque você tinha que ouvir o que os outros falavam. Ninguém falava aquilo que a categoria precisava dizer. Quando a gente passou a ter uma representação, nem sempre a gente ganhou, mas, pelo menos, a gente tinha quem dissesse e analisasse pelo prisma de quem está no chão da escola. Então, eu vivi isso como dirigente sindical e depois vivi também como parlamentar saído E apoiado por essa categoria. Faz muita falta sim. É uma coisa que a gente tem que reconhecer. Faz falta.
(A.C.) O senhor irá se candidatar ao mandato de deputado estadual em 2026, irá apoiar um professor ou os planos são de apoio a um quadro que não necessariamente seja do magistério?
(I.B.) Do magistério acho que não tem uma discussão mais específica, isso está sendo discutido em termos partidários, nacionalmente a gente já começa a debater o cenário de 2026. Aqui também a nossa corrente já tem feito discussões a respeito disso e eu tenho conversado com lideranças, com pessoas, movimentos que acompanham a gente. Sempre que posso ter uma oportunidade, tanto eles cobram, como eu também dialogo sobre isso, mas não temos nada ainda definido.
Nesse momento, estou muito antenado ainda em fechar essa macro-organização do mandato, que é a tarefa que o povo me dedicou agora. Mas 2026 é logo ali. A gente tem que estar antenado com tudo isso. O que eu posso dizer sobre isso é: disputando ou apoiando, estarei incidindo fortemente, dentro dos limites que posso, sobre o cenário de 2026 — que é um cenário que coloca para a gente um desafio muito grande. Vamos estar disputando de novo a vaga de presidente, a vaga de governador, a vaga de deputado estadual, deputado federal, de senador. Então, é uma eleição muito simbólica e decisiva. Nós não podemos nos ausentar desse debate.
Agora, definição não, nós estamos ainda naquele caminho das tratativas, das conversas. O meu nome está sendo cogitado e eu dialogo com as pessoas para sentir também qual é o clima. Começando um mandato novo, retorno à câmara depois de seis anos afastado e temos que trabalhar e cumprir a tarefa que o povo nos dedicou.