O pré-caju, para os políticos, é uma oportunidade de sinalizar os passos que darão. Os políticos que pelos camarotes desfilaram sabiam os recados que queriam passar. Após o evento, os cidadãos precisam olhar criticamente para o que lá aconteceu.
A concretude dos sinais foi perfeitamente abordada pelo senador Laércio Oliveira (PP): “os bastidores ficam publicizados [no pré-caju] para todos que estão no entorno e há muita conversa política, claro, que olhando para as eleições do próximo ano”, explicou em entrevista.
A festa no camarote foi intensamente governista e lá estavam todos que buscavam o apoio da base governista, incluindo-se aí os petistas Eliane Aquino e Márcio Macêdo, que, certamente, foram o destaque do evento.
A ida de Márcio e Eliane ao camarote do pré-caju faz parte do planejamento político deles para a eleição de 2024, tirando a ocasionalidade do discurso e sendo justo que banquem os ônus dos maus sinais dados à militância petista e à população que elegeu o Partido dos Trabalhadores para puxar um oposição ao projeto neoliberal encabeçado por Fábio Mitidieri (PSD) e Edvaldo Nogueira (PDT).
Os sorrisos largos e abraços confortáveis entre eles e os governistas não condizem com a atual conjuntura política em Sergipe, não sendo justo com a esquerda que votou não apenas em Rogério Carvalho (PT), João Daniel (PT), Chico do Correio (PT), Eliane ou Márcio, mas, acima deles, no PT.
As cenas sinalizam que o esforço da maior parte do PT em enfrentar o neoliberalismo no estado não encontra guarida em todos que são filiados e se dizem representantes dos ideais do partido - que precisa ser prática. Sendo honroso em relação aos militantes petistas que foram exonerados de cargos públicos para que o PT concorresse a prefeitura de Aracaju em 2020 e ao governo do estado em 2022 que o enfrentamento seja firme.
Em Sergipe, os gritos dos servidores, do povo e da esquerda sobre a tentativa de privatização da saúde pública no estado e na capital, a crise do transporte público da Grande Aracaju, a opção por Organizações Sociais, a iminente privatização da água e os demais temas de interesse público chegaram para aqueles que representam Sergipe no governo Lula (PT) como um sussurro, enquanto o pré-caju chegou como um sonoro convite.
Os sinais que ficam desse pré-caju diminuem a importância política de quem se diz de esquerda, mas não pratica o que é ser de esquerda. Não cabe a busca de poder pelo silêncio e apoio a quem enfraquece o Estado e os serviços públicos. Ser político não deve ser confundido com ocupar cargos públicos, ser político deve ser a persistente luta por um ideal.
Concluo lembrando que, na política, nada é meramente pessoal, quem confunde pessoas com ideais nada entende do que está em curso. Homenageio tecendo, com cortes, o que Cazuza cantou: Os meus sonhos foram todos vendidos, tão baratos que não acredito. Aquele garoto que ia mudar o mundo, frequenta agora as festas do “Grand Monde”. Meus heróis morreram, o meu “inimigo” está no poder. Ideologia, eu quero uma para viver.