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Funcap avança em edital junino, mas título de 'país do forró' só será legítimo com valorização real aos nossos artistas

  • Foto do escritor: André Carvalho
    André Carvalho
  • 6 de mai.
  • 2 min de leitura
Foto: Igor Matias
Foto: Igor Matias

Os festejos juninos são destacados pelo governo de Sergipe no calendário cultural do estado, muito pela capacidade de atrair turistas em competição com outros estados nessa época do ano — que não se repete no Réveillon ou no Carnaval. Entrando como prioridade, o governo investe milhões em atrações e estrutura para os festejos, mas a valorização efetiva dos artistas sergipanos ainda não acompanha a valorização da data.


Recentemente, o governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap), lançou o edital de chamamento público nº 20/2025 para a seleção de artistas locais que irão se apresentar no ciclo junino deste ano. O edital contempla bandas de forró, artistas iniciantes, trios pé de serra, quadrilhas juninas e grupos de cultura popular.


Um dos pontos criticados no edital anterior foi o prazo mínimo de 90 dias para pagamento aos artistas. No edital deste ano, esse prazo foi reduzido para até 60 dias após a apresentação, o que sinaliza um avanço. No entanto, esse prazo continua longe de atender à realidade dos artistas locais, especialmente se comparado ao pagamento feito a atrações nacionais, muitas vezes realizado no ato da apresentação ou até antecipadamente.


Outro ponto importante é a ampliação do número de atrações contempladas: serão 450, um salto em relação às 337 do edital anterior. Apesar disso, cerca de 330 dessas atrações receberão cachês que variam entre R$ 2.000 e R$ 4.500. Esses valores, embora possam parecer razoáveis à primeira vista, são incompatíveis com os custos reais de uma apresentação profissional. Quando se trata de grupos numerosos, como quadrilhas juninas ou manifestações folclóricas, o cachê é claramente insuficiente para cobrir ensaios, produção, transporte e figurino.


Além disso, o edital estabelece um valor único de R$ 500 para alimentação e bebidas em camarim — independentemente de ser um trio pé de serra com três integrantes ou uma quadrilha com mais de 30 pessoas. Essa padronização ignora as necessidades específicas de cada grupo e escancara a falta de sensibilidade na distribuição dos recursos.


No edital anterior, uma das maiores críticas recaiu sobre o tratamento dispensado às quadrilhas juninas, que tinham a exigência de, no mínimo, 32 dançarinos e recebiam apenas R$ 3.500. Neste novo edital, a exigência numérica foi retirada e o valor do cachê passou para R$ 4.500. Embora isso represente uma melhora, o valor continua distante do necessário para a valorização real dessa expressão cultural, que envolve uma cadeia de profissionais e exige meses de preparação.


O edital de 2025 traz avanços em relação ao anterior, mas ainda reflete uma visão de cultura que precisa amadurecer. Falta compreender que o papel do governo não é apenas contratar, mas fomentar e preservar a cultura local. Sem políticas de continuidade, tudo se resume a uma oportunidade por ano. Enquanto artistas de fora vêm, se apresentam e vão embora, os nossos seguem por aqui — vivendo, criando e movimentando a cultura sergipana. Se Sergipe quer ser, de fato, o país do forró, precisa valorizar quem faz o forró acontecer.


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