A presença, nas ruas, daqueles que trazem consigo a vontade de construir algo mais democrático e plural do que temos hoje no Brasil é fundamental. No topo do poder há quem sempre esteve nesses espaços. Se há mais povo hoje do que no passado, ainda estamos muito longe de garantir um país que permita a todos os cidadãos viver sem medo de ser feliz.
O PL 1904/24, já criticado aqui no Sergipense, que torna a pena para quem aborta o dobro da prevista para quem violenta o corpo de outro, é um tapa na cara de quem pensa que estamos andando para esse país do sonho. Em entrevista, o autor do projeto deixou claro que a vida de crianças, mulheres e pessoas que gestam virou um jogo para medir a força do governo Lula (PT).
Nesse jogo do bolsonarismo, entrou Arthur Lira (PP), correligionário de Laércio Oliveira (PP) e de Thiago de Joaldo (PP), que aprovou a urgência em 24 segundos. É revoltante saber que algo tão violento e sério, um enorme retrocesso civilizatório, teve sua tramitação facilitada enormemente numa votação com menos atenção do que quando nomeia rua.
O absurdo óbvio parou de soar absurdo para boa parte de nossa sociedade. O ódio às minorias políticas — mulheres, negros, LGBT+, pobres e afins — perdeu a vergonha e hoje é gritado por parlamentares em todas as casas legislativas brasileiras, até mesmo no Senado, antes tido como palco dos mais elevados debates políticos.
A desrazão grita, enquanto a lucidez parece se acovardar.
No último sábado, um grupo percorreu um curto trecho do centro de Aracaju, como ocorrera em outras cidades brasileiras, a protestar contra o PL citado anteriormente. Sem muita estrutura, mas com urgência e agonia, levantou-se o coro de que “criança não é mãe e estuprador não é pai”, recebendo a compreensão e apoio dos transeuntes.
A presença física nas ruas é fundamental para um campo progressista que não se vê representado a contento nos espaços de poder, que, por sua vez, se encontram tomados pela elite econômica e pelos mercadores do retrocesso. Especialmente em Sergipe.
Por mais cansativo que seja, é importante que o campo progressista ocupe mais as ruas e fortaleça as bases para constranger as forças do retrocesso e encorajar aqueles que simpatizam com uma ideia de sociedade plural. Nada está seguro ou garantido, estar continuamente atento e forte para combater o retrocesso é o peso de quem tem consciência social e compromisso democrático.