O ato de governar, seguindo as bases democráticas, é intrinsecamente ligado ao debate e à transparência. Governantes que não se encantam com os cânticos democráticos, veem na luta do povo “incivilidade”. Nessa linha, o governador Fábio Mitidieri (PSD) fecha seu primeiro ano de mandato tendo como marca a indisposição para debater com o povo.
Quando candidato, Mitidieri foi o último a assinar uma carta compromisso com o SINDISAN, sindicato que luta pela defesa da DESO e de seus trabalhadores. O documento consiste num compromisso contra a privatização da DESO e em defesa de um saneamento básico público e de qualidade.
Como se a palavra do governador tivesse a credibilidade nula, ou como se o candidato e o governador fossem pessoas distintas e opostas, Fábio Mitidieri caminha a passos largos para privatizar a distribuição de água no estado de Sergipe. Primeiramente, é bom ressaltar que todo processo tem se dado de forma dissimulada, abaixo da superfície da política, muitas vezes sendo negado pelo líder do governo na Alese, o deputado Cristiano Cavalcante (UB).
Em abril, o governo, que não se dispôs durante todo o ano a dialogar com seu povo, levou sua secretária de Fazenda, Sarah Tarsila Andreozzi, a informar ao Estadão que iriam conceder, por pelo menos 35 anos, o serviço de saneamento em Sergipe até o final do ano. O Estadão é lido pela elite nacional, interessada em lucrar com o saneamento de Sergipe, a matéria funcionou, portanto, como ofertar a DESO.
Mesmo com tudo às claras para o mercado nacional, o governador e seus subordinados não foram sinceros e justos com a população que, ao menos, deveria participar do debate. Precisando realizar uma audiência pública, para cumprir os ritos, o governo optou por um simulacro desta, levando o governo ao ridículo.
Mostrando-se estranho ao debate, que consiste em defesa de pontos muitas vezes divergentes, Fábio Mitidieri chamou a participação dos trabalhadores de “incivilidade” e usou isso para justificar uma audiência virtual. O plano do governador é unificar as 13 microrregiões da DESO para, dessa forma, facilitar o processo de privatização da distribuição de água e tratamento de esgoto por 35 anos.
“Primeiro a gente propôs uma audiência pública, como é um ritual que tem que ser feito, falta um pouco de civilidade, eu acho. A gente teve que transformar depois na audiência virtual, porque, as pessoas que foram lá, não foram para ter uma audiência pública, foram para tentar fazer algum tipo de manifestação e isso acabou criando dificuldade”, afirmou Fábio em entrevista à Itnet. O governador aproveitou para colocar sob os ombros dos trabalhadores a responsabilidade pelos problemas da DESO, mesmo a gestão estando a cargo do governador e não dos trabalhadores.
É triste que não possamos ver no nosso hino a tradução de nossa realidade, não ressurge em Sergipe a mais bela aurora, mas um melancólico lusco-fusco. E, com Sergipe à venda, a província maior pode tornar a ditar regras por cá. O atual governo marcha, de mãos dadas com deputados estaduais aliados, para diminuir a democracia em Sergipe e transformar, cada vez mais, o povo em uma plateia sem direitos.