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Opinião: Não basta falar a verdade; é preciso dizê-la de modo sedutor

  • Foto do escritor: Gabriel Barros
    Gabriel Barros
  • 3 de out.
  • 2 min de leitura
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Vivemos em uma época em que a forma ultrapassa o conteúdo, em que a superfície das coisas pesa mais do que sua profundidade. As redes sociais radicalizaram um processo que filósofos como Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, e Walter Benjamin, em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, já haviam intuído: a política, a arte e até a vida cotidiana transformaram-se em imagem, performance e mercadoria simbólica.


O que importa, hoje, não é necessariamente o que se diz, mas como se diz. Uma ideia complexa perde força diante de um meme engraçado. Um argumento elaborado não tem o mesmo alcance que um vídeo de quinze segundos com trilha sonora cativante. O conteúdo pode até ser raso, mas se for embalado na forma certa, ganha circulação, afeto e impacto. É o triunfo da estética sobre a substância.


Isso não significa que vivemos um vazio intelectual absoluto, mas sim que a lógica das redes reconfigura o que é valorizado. A visibilidade, medida em curtidas, visualizações e compartilhamentos, tornou-se um novo critério de verdade. O que aparece é o que importa. Como Nietzsche já provocava em seus escritos sobre máscara e aparência, vivemos em um mundo em que a superfície não é apenas aparência, mas realidade em si mesma.


Essa inversão cria um paradoxo. Nunca se produziu tanto conteúdo, mas nunca a forma pesou tanto na sua recepção. Não basta falar a verdade; é preciso dizê-la de modo sedutor. Não basta propor uma ideia justa; é necessário transformá-la em narrativa visual que emocione, choque ou divirta. Assim, a filosofia, a política e até as relações pessoais tornam-se reféns do espetáculo.


Contudo, a forma não deve ser pensada apenas como ilusão ou disfarce. Ela é também campo de disputa. Se a forma captura a atenção, ela pode ser usada para tensionar o conteúdo, para provocar reflexão, para abrir fissuras no espetáculo. O perigo está quando a forma se torna tudo, e o conteúdo nada — quando a imagem não serve para revelar, mas para ocultar.


No fim, as redes sociais nos colocam diante de uma escolha filosófica: queremos ser espectadores passivos de formas sedutoras que esvaziam o mundo, ou criadores críticos que usam a forma para devolver densidade ao conteúdo? A resposta a essa questão não é apenas estética; é política, ética e existencial.

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