O governador Fábio Mitidieri, PSD, expõe um olhar de pouca deferência à educação pública e aos trabalhadores da educação. Durante a eleição já era perceptível uma má vontade do então candidato em relação à categoria do magistério, o que infelizmente se confirmou com o início do governo.
O então candidato Fábio Mitidieri foi o último que concorria ao governo do estado a assinar a carta compromisso do Sintese e não demonstrava interesse em reverter as perdas históricas que a categoria sofreu nas últimas décadas, propunha, sem aprofundar e detalhar, que priorizaria uma nova carreira para o magistério.
No comando do Poder Executivo, Fábio entregou a alguns secretários a função de dialogar com a classe os caminhos para valorizar professoras e professores da rede pública do estado de Sergipe. Após idas e vindas de negociações, o governador propôs, de forma intransigente, um reajuste de 2,5% e incorporação de cerca de 10% do abono aos vencimentos da categoria.
O reajuste é uma perda real para a classe, pois não repõe a inflação e nem os 14,95% do piso concedido pelo governo Lula, que aumentou os repasses do FUNDEB. A justificativa seria que o vencimento base dos professores já está de acordo com o piso da categoria, que é lido de cabeça para baixo pelo governador que parece entendê-lo como teto.
Um dos pontos mais urgentes para a categoria, além do reajuste, é a reestruturação da carreira, exigida pela Constituição Federal, pelo Estatuto do Servidor e por leis como a 11.738/2008, que instituiu o piso do magistério. A paridade entre professores da ativa e aposentados é outra demanda da categoria.
O governador tem usado de falas duras e ríspidas em relação aos professores e tem dito que não consegue resolver todos os problemas da categoria neste ano, o que particularmente concordo, entretanto, ele não apenas não encarou nenhum deles como aumenta por implementar uma política de desvalorização real dos vencimentos.
Além da desvalorização prática, está em curso uma desvalorização simbólica daqueles que educam os filhos dos trabalhadores deste estado. O governador trata as negociações num ponto de intransigência que não alcança a importância social da educação, como se professor fosse alguém menos relevante. Não vi o governador ser ríspido com a classe empresarial quando esta questionou o aumento do ICMS, pelo contrário.
Vejo narrativas que tentam colocar a população contra o magistério, como se professores estivessem interessados em ganhar tudo do governo sem nada entregar, mas o que ocorre é o oposto. Nenhum trabalhador está disposto a perder direitos e a ter seu poder de compra diminuído sem lutar. Professores são trabalhadores, não são anjos que vivem de luz.
A forma como o governo vem tratando os professores demonstra que falta ao governador uma visão de educação pública sólida, talvez por ser membro nato da elite econômica deste estado e não ter vivenciado a escola pública. Para onde vai nossa educação pública? Os professores não possuem valorização, o que desmotiva individualmente os trabalhadores. O sistema de educação não é muito claro em seus métodos e objetivos, o que torna a educação muito destoante de uma escola para outra, pois depende muito da ação autônoma.
Em Sergipe, não sabemos direito qual modelo de educação Fábio Mitidieri adotará, mas sabemos que dependerá dos trabalhadores da educação pública. Se o governador se importa com as próximas gerações de sergipanos, adotará a valorização da classe e a implementação de um modelo de educação bem estruturado que consiga manter maior uniformidade entre as escolas e disponibilizar aos professores orientações claras dos rumos da educação pública de Sergipe.