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Foto do escritorAndré Carvalho

Prefeitura deixa artistas aracajuanos e diversidade religiosa de fora da sua festa de aniversário


Programação do aniversário de 168 anos de Aracaju , seu jorge, xande pilares, coletivo sergipano mulheres no samba, banda som e louvor, gabriela rocha. Prefeitura de Aracaju.
Programação do aniversário de 168 anos de Aracaju

Visando a celebração dos 168 anos de fundação da capital sergipana, a prefeitura de Aracaju anunciou a programação da comemoração. No dia 17 o samba tomará conta da capital, já no dia 18 acontecerá uma programação para os evangélicos. Chama a atenção a desvalorização do artista local e a falta de zelo com a laicidade do Estado.


Apesar do intuito ser celebrar Aracaju, apenas uma banda sergipana irá se apresentar no evento, o Coletivo Mulheres no Samba. Até mesmo o estado do Rio de Janeiro conseguiu ter mais representantes nos palcos da festa, com Xande de Pilares e Seu Jorge. É difícil conceber a motivação de tal fato, senão a falta de esforço para pensar algo que vá além de um show.

O incômodo deve ser inserido numa discussão sobre a forma como o poder público trabalha a cultura. O foco tem sido mega festas musicais, concentrando todo o público simultaneamente em um mesmo local, sem buscar, por exemplo, incrementar polos nos diversos bairros e com diversidade de estilos e expressões artísticas.


A prefeitura perdeu a oportunidade de valorizar a produção artística aracajuana e convidar filhos de sua terra para festejarem a cidade onde vivem. A programação repercutiu negativamente nas redes, gerando posts provocativos como o publicado pelo instagram do @festivalivesuasmao, sugerindo um modelo que mescla pluralidade e valorização dos fazedores de arte local.

Outro ponto polêmico foi a decisão do prefeito Edvaldo Nogueira, PDT, de realizar um dia com shows evangélicos de porte nacional, ignorando completamente a necessidade de o Poder Executivo buscar a isonomia entre as religiosidades vivenciadas no Estado laico. Apesar de a prefeitura afirmar que a decisão se deu por força de lei, a obrigatoriedade não está presente no texto.


A lei citada é a 2919/2001, que criou a Semana de Louvor e Ações de Graça pelo aniversário da cidade de Aracaju e um culto campal com a presença de diversas igrejas evangélicas. A leitura de que a lei obriga a realização de shows gospels é embebida de vontade e equívoco.

Nesse aspecto, a prefeitura decidiu renunciar a qualquer princípio de isonomia entre as diferentes religiões que existem e resistem na cidade. O debate sobre esse evento deve ser amadurecido, não como um rechaço à expressão evangélica, mas à exclusão das demais religiosidades. Se a prefeitura quer segmentar parte da comemoração com celebrações religiosas, que tenha palcos e dias para o candomblé, o catolicismo, a umbanda, o kardecismo e demais segmentos que existam na cidade.


As duas discussões devem ser inseridas nos debates dentro dos governos e na sociedade. O que foi apresentado pela prefeitura mostra quais religiões possuem deferência no acesso às instituições e quais artistas terão apoio no poder público. Que as festas públicas se pluralizem, cumpram o papel de fomento à cultura local e busquem alcançar e representar cada vez mais cidadãos.


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