Big techs, adultização de crianças e os obstáculos da extrema direita
- Gabriel Barros

- 29 de ago.
- 3 min de leitura

Nos últimos anos, tem crescido a preocupação com a adultização precoce das crianças, um fenômeno que consiste na exposição, por meio das mídias digitais e do consumo de conteúdo online, a experiências, padrões estéticos e comportamentos destinados ao público adulto. Essa problemática, cada vez mais presente na vida de crianças e adolescentes, tem sido denunciada por diferentes setores da sociedade — entre eles, o comunicador e influenciador Felca, que destacou em seus conteúdos como as plataformas digitais permitem e até estimulam a circulação de conteúdos nocivos para menores.
O Papel das Big Techs
As chamadas big techs (Google, Meta, TikTok, X/Twitter, entre outras) têm responsabilidade direta nesse processo. Seus algoritmos privilegiam conteúdos de maior engajamento, frequentemente sensacionalistas, sexualizados ou violentos, que acabam chegando a públicos vulneráveis. A lógica é simples: quanto mais tempo a criança ou adolescente passa navegando, mais lucrativo é para a plataforma.
Esse modelo de negócio transforma a proteção da infância em um obstáculo ao lucro. Em vez de desenvolverem sistemas eficazes de proteção, de restrição de idade e de moderação de conteúdo, as big techs empurram a responsabilidade para as famílias, mas continuam monetizando conteúdos que claramente exploram a curiosidade infantil e incentivam padrões de consumo e sexualização precoce.
A Crítica de Felca
Felca destacou a gravidade dessa questão. Ele apontou como, em várias plataformas, a linha entre o conteúdo infantil e o conteúdo adulto é tênue, e muitas vezes inexistente. Isso favorece tanto a adultização precoce, quanto a exposição de crianças a potenciais abusos digitais, como aliciamento em chats e exploração de imagens.
Ao trazer o tema para o debate público, Felca ajuda a mostrar que essa não é apenas uma pauta “moral” ou “cultural”, mas sim um problema estrutural ligado ao poder das big techs e à ausência de regulação adequada.
O Papel Obstrutivo da Extrema Direita
Enquanto setores progressistas defendem políticas de regulação das plataformas digitais, fortalecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e campanhas públicas de conscientização, a extrema direita costuma se colocar contra essas medidas.
Isso ocorre por diversos motivos:
1. Defesa cega do “livre mercado” – Para a extrema direita, qualquer regulação das big techs é vista como censura ou ameaça à “liberdade de expressão”, ainda que se trate de proteger crianças.
2. Uso moralista da pauta – Muitos políticos da extrema direita preferem reduzir o debate sobre a proteção infantil a slogans vazios, como ataques a professores, artistas ou produções culturais, enquanto ignoram a responsabilidade das plataformas digitais.
3. Bloqueio legislativo – Projetos de lei que poderiam criar mecanismos de proteção mais fortes para crianças na internet, como a regulação de algoritmos e a responsabilização de empresas por exposição indevida de menores, são sistematicamente barrados por bancadas de extrema direita.
Na prática, esse comportamento cria um paradoxo: os mesmos grupos que se dizem “defensores da família e da infância” são os que mais impedem políticas efetivas de proteção das crianças no ambiente digital.
Portanto, o debate sobre a adultização de crianças não pode ser reduzido a discursos simplistas. Trata-se de um problema estrutural e político, no qual as big techs lucram com a exploração da infância e a extrema direita impede soluções efetivas ao colocar os interesses do mercado acima da proteção das crianças.
Ao dar visibilidade ao tema, vozes como a de Felca cumprem um papel fundamental, mas é preciso ir além: fortalecer a pressão social por regulação, responsabilizar as empresas de tecnologia e enfrentar os bloqueios políticos que a extrema direita impõe. Só assim será possível garantir um ambiente digital que respeite a infância e proteja as novas gerações.






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