Janja pode ser criticada e isso não autoriza ataques misóginos às jornalistas
- André Carvalho
- 16 de mai.
- 2 min de leitura

Rosângela da Silva (PT), Janja, não exerce nenhum cargo público, mas se destaca no debate nacional por ser a primeira-dama do país, mantendo um casamento com o presidente Lula (PT). Por sua atuação e por ocupar um lugar no tabuleiro político, é legítimo e natural que suas falas e ações sejam debatidas — por mais que isso incomode aliados e seguidores.
Em diversos momentos, Janja se envolveu em polêmicas e pautou a mídia. No caso mais recente, um dos ministros de Lula teria repassado à imprensa que a primeira-dama criticou o TikTok durante uma reunião com o presidente chinês — algo bastante delicado do ponto de vista diplomático. Qualquer fala, de qualquer um dos presentes naquela sala, está sujeita ao debate e à crítica — especialmente de quem não estava ali em nome do Estado brasileiro.
O episódio foi discutido por jornalistas como Natuza Nery e Andréia Sadi, o que gerou reações desproporcionais nas redes sociais. Faz parte do ofício dessas jornalistas comentar o que é relevante na política, e uma fala sobre um tema sensível, em um encontro com o principal parceiro comercial do Brasil, é relevante. O leitor pode discordar dos argumentos e apresentar contrapontos, mas acusar de perseguição e, pior, atacar as jornalistas com argumentos misóginos — como os que vi — não é minimamente razoável.
No debate sobre a atuação de Janja, é bom ressaltar: manter um relacionamento com alguém que ocupa um cargo público não transforma ninguém em sócio do cargo, nem autoriza interferência no exercício da função. Aqui, o que está em discussão não é o gênero, mas quem tem legitimidade para falar em nome do Brasil. Talvez isso fique mais evidente se trocarmos os papéis: se Joachim Sauer falasse em nome da Alemanha durante o mandato de Angela Merkel, isso seria adequado?
É evidente que todos os lados podem levantar argumentos sobre o tema. O que é inaceitável para uns pode ser banal para outros. Mas o que não pode sair de cena é o princípio: toda personalidade com projeção política está sujeita ao escrutínio público. Quem não quiser ser alvo de debate, dele não participe.

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