Não punir Bolsonaro seria declarar que a democracia brasileira nada vale
- André Carvalho
- há 4 dias
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A prisão de Jair Bolsonaro (PL) não é fundamental para o Brasil porque eu ou outro cidadão não gosta dele, mas porque tentou um golpe contra a nossa democracia. É importante afastar a tentativa de tratar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de qualquer ideia de punição na esfera política, essa se fez – e espero que continue sendo feita – nas urnas. O julgamento na esfera jurídica existe porque quem comete crimes, mesmo que o faça tentando passar um verniz de política, deve ser punido.
A política democrática que a vida republicana exige não é compatível, de forma alguma, com o autoritarismo e com a dominação social pela violência. Golpes contra democracias são a negações da política, e é isso que vem ocorrendo no Brasil através da campanha golpista contínua de Jair Bolsonaro.
Além de tentarem colocar o plano de Bolsonaro no campo da normalidade política, ainda tentam pedir anistia pelo fato de ter sido um plano fracassado. Porém, fazendo uma analogia, se alguém atenta contra a vida de uma família e fracassa, essa família deve esperar que essa pessoa seja punida ou deixá-la livre para tentar de novo? Não punir golpistas é incentivar que continuem tentando roubar o direito de todos de escolher o destino da sociedade.
O bolsonarismo é uma anomalia, um adoecimento da política brasileira. Quando Bolsonaro venceu em 2018, lamentei o resultado e, assim como o campo democrático deste país, passei a combatê-lo dentro dos limites democráticos e com as ferramentas intrínsecas a esse sistema. Importante lembrar que naquela eleição Lula (PT) foi impedido de disputar por Sérgio Moro (União), então juiz, que logo depois virou ministro de Bolsonaro. Hoje, Moro e o promotor responsável pelo caso são políticos bolsonaristas.
Destoando do campo democrático, após promover uma necropolítica desastrosa durante a pandemia, resultando em mortes em massa, Bolsonaro passou a afirmar, que aquela eleição na qual venceu havia sido fraudada. Vendo o fracasso de seu governo e se adiantando à derrota que sofreria em 2022, iniciou uma campanha para desacreditar o processo eleitoral, buscando apoio popular e até internacional para seu projeto autoritário – só quem reza para pneu ou faz da política mercado embarcou nessa narrativa.
Em 2022, quando Lula o derrotou, vimos a PRF agir para dificultar o voto de eleitores do Nordeste, região na qual o petista tinha ampla vantagem. Em seguida, acamparam em frente a quartéis, generais soltaram insinuações de ruptura, ocorreram atentados e tudo isso desembocou no 8 de janeiro. As investigações, porém, mostraram que não se tratava apenas de um movimento espontâneo, mas que havia um golpe em marcha, com minuta golpista pronta, planos para eliminar Lula, Alckmin e Moraes, tentativas de cooptação das Forças Armadas e diversas outras ações criminosas que hoje estão sendo julgadas pelo STF.
Defender a prisão de Bolsonaro não pode ser confundido com punir um político desqualificado — isso se faz na urna. Defender sua prisão é garantir que ele e seus cúmplices respondam pelos crimes contra a democracia. Não punir Bolsonaro seria declarar que a democracia brasileira nada vale e, também, um convite aberto para que novas tramas golpistas aconteçam.
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