
Há muito tempo, aponto as incoerências de Emília Corrêa (PL) e seu discurso populista, muitas vezes vazio. Um dos motes de sua campanha seguiu a linha do “Collor caçador de marajás”, prometendo furar a bolha do “sistemão”. No entanto, tanto no caso de Collor quanto no de Emília, a prática distanciou-se bastante do discurso.
Durante a campanha, Emília e sua equipe evitaram críticas mais contundentes ao governador Fábio Mitidieri (PSD), o que era, no mínimo, curioso, já que Fábio havia apoiado a campanha de Luiz Roberto (PDT). As críticas concentravam-se, sobretudo, em Edvaldo Nogueira (PDT), então prefeito.
Naquele momento, já era evidente que Edvan Amorim (PL) sabia que Emília teria facilidade em vencer a eleição e, por isso, começou a articular apoios para o futuro governo. Enquanto Emília pregava “furar a bolha do sistemão”, seu grupo já construía alianças com esse mesmo sistema para garantir governabilidade.
Antes mesmo de Mitidieri, a prioridade era estabelecer uma boa relação com André Moura (União) — dos 26 vereadores eleitos em Aracaju em 2024, pelo menos 11 contaram com o apoio de André. Em seguida, a atenção voltou-se para o governador.
Longe do “rugido da leoa” que marcou sua imagem pública, os movimentos de Emília foram sutis e garantiram-lhe uma maioria confortável na Câmara Municipal, mesmo tendo eleito apenas dois vereadores. Apesar dos acordos de não-agressão e de cooperação mútua, Emília parece constrangida com essas relações. Seria precipitado afirmar que ela está totalmente alinhada à base do governador, pois sabe que isso pode abalar seu apoio popular.
Independentemente do constrangimento pessoal de Emília, Edvan Amorim demonstra saber exatamente o que é necessário para manter o apoio à prefeita na Câmara Municipal — e Emília concorda. A expectativa é que o PL integre a chapa de Fábio Mitidieri em 2026 e que, até lá, a prefeita continue realizando aproximações sutis, buscando amenizar as críticas da população. Essa estratégia, embora pragmática, reforça a contradição entre o discurso de ruptura e a prática de alianças com o próprio sistema que ela prometeu combater.