
Apesar de toda a América Latina se horrorizar com o tratamento dado pelo governo dos Estados Unidos aos imigrantes latinos, uma parcela da extrema-direita brasileira insiste em aplaudir Donald Trump e endossar suas ações. Um exemplo disso é o deputado sergipano Rodrigo Valadares (União), que, em entrevista à TV Atalaia, não apenas apoiou as medidas de deportação adotadas pelo presidente estadunidense, como também reforçou estereótipos prejudiciais ao tratar imigrantes ilegais como marginais.
Valadares defendeu o direito dos Estados Unidos de não aceitar imigrantes ilegais, argumentando que, enquanto os imigrantes legais contribuem para o desenvolvimento do país, os ilegais apenas causam prejuízos. No entanto, sua fala vai além de uma mera discussão sobre legalidade. Ao afirmar: “O que seria do Brasil, por exemplo, sem a imigração? O que seria dos Estados Unidos sem a imigração legal?”, o deputado deixa subentendido uma preferência por determinados tipos de imigração, sugerindo que o problema pode não estar apenas na ilegalidade, mas também na origem dos imigrantes.
Sua visão sobre as famílias deportadas fica ainda mais evidente quando ele afirma: “Agora, o que a gente não dá para aceitar [...] é se chegasse um monte de imigrante que viessem aqui cometer crimes, cometer assaltos, cometer latrocínios. Colocar gangues aqui dentro. Você não pode permitir que o imigrante ilegal tenha o mesmo direito de imigrante legal”.
Essa narrativa contribui para um clima de hostilidade que já afeta milhares de latinos nos Estados Unidos. Imigrantes estão sendo perseguidos em seus locais de trabalho e de convivência, como mostram diversos relatos nas redes sociais. Diante disso, cabe questionar: o que leva um deputado sergipano a endossar um discurso que trata brasileiros, mexicanos, chilenos, venezuelanos e outros latino-americanos como criminosos presumidos, apenas por buscarem uma vida melhor em um país que se vende ao mundo como terra de oportunidades?
Em sua entrevista, Valadares ainda comparou os imigrantes ilegais aos golpistas do 8 de janeiro, expressando indignação pela empatia da população em relação aos brasileiros deportados, enquanto os envolvidos no ataque às instituições democráticas não receberiam a mesma compaixão. Essa comparação, além de absurda, revela uma distorção da realidade. Os golpistas do 8 de janeiro, segundo a Polícia Federal, faziam parte de um plano que visava dar um golpe. Além disso, segundo as investigações, contou com a participação de militares e com o planejamento do assassinato do presidente Lula (PT), do seu vice e do ministro Alexandre de Moraes. Igualar essas ações à luta de imigrantes por sobrevivência e dignidade é, no mínimo, desonesto.
Ao colocar a ideologia bolsonarista acima das reais necessidades do povo sergipano, Rodrigo Valadares expõe o caráter vergonhoso da ideologia que representa. O suposto patriotismo que ele proclama não passa de uma máscara a encobrir um vira-latismo submisso, que idolatra os Estados Unidos ao ponto de tratar o próprio povo como marginal, apenas por sua origem. Suas palavras não só desrespeitam os imigrantes latinos, como também refletem uma subserviência ideológica que envergonha o Brasil e ignora sua riqueza cultural e diversidade.