Enquanto homenageia políticos que serviram à ditadura, Estado ignora Milton Coelho, que teve a visão roubada pelo regime
- André Carvalho
- 30 de abr.
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A história de Rubens e Eunice Paiva tomou conta do país a partir do filme “Ainda estou aqui”, que explorou as consequências da ditadura militar brasileira sobre a família Paiva. O impacto da produção levantou homenagens aos personagens do filme e evidenciou a importância de manter ativa a defesa do sistema democrático.
Assim como a família Paiva, diversas famílias foram devastadas pelo que fora feito durante a ditadura militar. Em Sergipe, além de vítimas fatais como Pedro Hilário e Anísio Dário, há diversos casos de sergipanos que foram brutalmente torturados, com traumas profundos que também marcaram suas famílias.
Um dos casos mais emblemáticos fora o de Milton Coelho de Carvalho, que, assim como aconteceu com a família Paiva, foi levado ilegalmente pelos representantes do regime ditatorial, permanecendo preso por 50 dias no quartel do 28º Batalhão de Caçadores. Durante esse período, passou por sessões de tortura, sendo agredido violentamente e, após sofrer o deslocamento de retina, teve a visão roubada covardemente pelos militares.
Milton foi petrolheiro e um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Sergipe, sendo um dos alvos da Operação Cajueiro em 1976. Apesar do grave impacto em sua vida, Milton exerceu um papel importante em Sergipe na denúncia dos malfeitos da ditadura e na defesa de nossa democracia.
Durante depoimento à Comissão da Verdade, Milton apontou a importância de que não esquecêssemos os lamentáveis fatos do passado: “é preciso que sejam debatidos os fatos passados, que não puderam ser expostos e comentados, para que se criem condições democráticas e que, assim, não haja reversão no clima de democracia que estamos vivenciando hoje. É sabendo da história que se educa politicamente a população”.
Em abril de 2024, aos 82 anos, Milton Coelho faleceu. Foi vítima da brutalidade do Estado e dedicou sua vida à denúncia das violações da ditadura e à defesa intransigente da democracia. Sua trajetória é símbolo de resistência e merece ser lembrada com o devido reconhecimento público.
Assim como Rubens Paiva, homenageado com uma praça em 1986, durante a gestão de Jackson Barreto à frente da Prefeitura de Aracaju, Milton Coelho deve ser eternizado em espaços públicos da capital sergipana. É uma dívida histórica que a cidade e o estado ainda não pagaram.
É um escárnio que Aracaju e Sergipe ainda preservem inúmeros aparelhos públicos em homenagem a governadores que colaboraram com a ditadura militar e comandavam o estado enquanto sergipanos eram presos, torturados e assassinados. Ao mesmo tempo, ignoram por completo a memória de Milton Coelho, que enfrentou a repressão lutando por um país democrático e justo.
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