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Foto do escritorAndré Carvalho

Impedido de participar de edital da Lei Paulo Gustavo, beneficiando o Instituto Banese, Cine Vitória conta com futuro incerto


Foto: Amanda Custódio

Os cinemas de rua representam a preservação da história do audiovisual brasileiro e, em muitos casos, uma possibilidade de diversificar a oferta de produções audiovisuais que os cinemas de rede muitas vezes não possuem interesse em colocar em cartaz. Em Aracaju, o Cinema Vitória é a representação concreta disso.


Inaugurado em 1934, o “Cine Vitória” marcou décadas com suas atividades na rua Itabaianinha, sendo fechado na década de 1980. Atualmente, onde outrora grandes filmes eram exibidos, funciona uma loja Americanas. Sob gerência da “Casa Curta-SE”, foi reinaugurado em 2013 na “Rua do turista”, administrada pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Sergipe (Codise), onde funciona até os dias atuais.


A reinauguração, segundo Rosangela Rocha, responsável pelo cinema, foi possível graças ao esforço da atual gestão na articulação para a obtenção de emenda federal, apresentada em 2011 pelo então deputado federal Iran Barbosa (PSOL). Com a não-reeleição de Iran, o projeto contou com o suporte de Rogério Carvalho (PT).


Para estruturar o cinema com capacidade para 130 espectadores, foi realizado um convênio no qual a emenda federal de R$ 218 mil reais contou com a contrapartida de R$ 54 mil do governo estadual.


Atualmente, o Cinema passa por um momento de incerteza sobre seu futuro. O seu funcionamento se dá via Termo de Permissão e Uso desde 2013, tendo vencido em 2018 e não sendo renovado, “mas não fomos desautorizados a continuar, uma vez que era uma parceria entre as partes”, explica Rosangela. 


Com o surgimento dos editais da Lei Paulo Gustavo (LPG) havia uma expectativa por parte da gestora de que pleiteassem a renovação dos equipamentos do cinema, que amargou as consequências do período pandêmico. Entretanto, a gestora explica que a expectativa foi substituída pela frustração, uma vez que a FUNCAP não deu uma carta de anuência para sua participação no edital.


“Com o edital lançado, vimos uma exigência para que fosse apresentada uma carta de anuência do proprietário ou responsável pelo prédio. Fomos conversar com a gestora, Antônia Amorosa (FUNCAP), que nos disse que não tinha interesse em dar esse documento porque tinha outros planos para o cinema”, afirma Rosangela.


Procurada pelo Sergipense, a FUNCAP informou que o Cine Vitória irá entrar numa fase itinerante, percorrendo cidades do interior sergipano, após isso, dependerá de estudos para definir seu futuro. Sobre a não-participação do cinema, a Funcap informou que a decisão foi para que a LPG beneficiasse “o maior número possível de agentes da cadeia produtiva da cultura”. 


Na categoria na qual o Cine Vitória poderia ser beneficiado, ganhou o Instituto Banese, que garantiu a verba para a reforma da sala Cândido Faria, no valor de R$ 204.835,81. O Instituto atua como fomentador de cultura do Banco do Estado de Sergipe. O Banese, como abordado pelo Sergipense, somente no Pré-caju, aportou o montante de R$ 280 mil reais. A participação do instituto não parece atender à intenção da LPG, que surgiu para socorrer agentes culturais impactados pela pandemia recente.

 

A FUNCAP, no entanto, não explicou quais seriam os planos para os atuais responsáveis pelo cinema, que não sabem até quando continuarão tocando as atividades. Informados pelo Sergipense, afirmaram que “essa política depõe contra todo o trabalho de instalação de um cinema e sua efetivação contínua enquanto agente cultural e econômico. Perderá a cidade. Uma coisa não inviabiliza a outra. Uma coisa é a itinerância de filmes em exibição, outra é manter um cinema de rua em funcionamento”.


A não-participação do Cine Vitória, símbolo de resiliência do audiovisual sergipano, no edital da LPG lançou luz para um problema maior: a incerteza acerca de seu futuro. Para o audiovisual sergipano, cinemas de rede não são opção para a apresentação de seus trabalhos, tendo no Cine Vitória essa possibilidade. A incerteza sobre ele pode representar mais uma perda para a cultura Sergipana.



Resposta da FUNCAP na íntegra


“O projeto Cine Vitória encontra-se em andamento, iniciando sua primeira fase de itinerância. Na segunda fase, está prevista a instalação do projeto em um dos equipamentos da Funcap, sendo que os estudos estão em curso para definir se será no Lourival Batista ou no Centro de Criatividade. A decisão final dependerá da conclusão dos projetos em andamento.


A etapa de itinerância do Cine Vitória ocorrerá ainda este ano, percorrendo cidades do interior. É uma oportunidade de levar a experiência cinematográfica a diferentes localidades, promovendo o acesso à cultura e estimulando a participação de agentes da cadeia produtiva da cultura.


É importante ressaltar que a Funcap abriu mão da utilização dos recursos provenientes da Lei Paulo Gustavo para beneficiar exclusivamente um de seus equipamentos. Essa decisão visa beneficiar o maior número possível de agentes da cadeia produtiva da cultura, ampliando as oportunidades e fomentando o desenvolvimento cultural em diversas áreas.”


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