Não é justo tratar Lula como Geni depois de barrar o golpe
- André Carvalho
- 18 de fev.
- 3 min de leitura

Num de tantos sucessos de Chico Buarque há a história de Geni. Rechaçada pela sociedade da qual faz parte, quando todos estavam ameaçados por um ataque bélico, fora Geni a salvadora. Quando sob ameaça, todos por Geni clamavam. Passada a ameaça, “joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir”.
Assim como Geni, Lula (PT) era o único capaz de frear o nefasto plano golpista de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Nesse sentido, fora aclamado pelos campos progressista e democrático a ser candidato numa difícil campanha. Mesmo adversários que possuíam restrições históricas, como Geraldo Alckmin (PSB), e outros que se afastaram em nome de projetos divergentes, como Marina Silva (Rede), percebiam a necessidade de Lula disputar aquela eleição.
E Lula venceu. Em uma eleição acirrada, ele não apenas derrotou Bolsonaro, mas também fez história ao ser o primeiro a impedir a reeleição de um presidente desde que o mecanismo foi instituído, no governo de FHC (PSDB). A vitória, no entanto, foi apenas o primeiro passo. O desafio seguinte era governar um país profundamente dividido, com instituições fragilizadas, uma economia combalida e as feridas abertas por quatro anos de desmonte.
Assim como só Lula venceria, só Lula conseguiria governar com alguma estabilidade esse país após o rebaixamento democrático e político representado pelo governo Bolsonaro. À frente do Executivo, Bolsonaro entregou o orçamento ao que de mais malcheiroso há no Brasil. Não se preocupou em governar, apenas em farrear, planejar golpe e aumentar o patrimonio familiar.
Como herança, Bolsonaro deixou um país destruído em diversas áreas como saúde, meio ambiente, educação, relações internacionais, programa sociais capengas e mais de 600 mil mortes numa cruel pandemia, muitas delas evitáveis. Além disso, deixou um país dividido e com práticas imorais, deixou uma economia frágil, com alta inflação, desemprego crescente e sem controle do orçamento. Não houve uma visão de desenvolvimento pro país.
Apesar dos desafios, Lula começou a reconstruir o Brasil. Nos primeiros meses de governo, retomou programas sociais essenciais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, e priorizou a recomposição do orçamento para áreas essenciais. Na política externa, devolveu ao país o protagonismo perdido, reatando relações com parceiros estratégicos e assumindo um papel de liderança na agenda climática global.
Lula não é mais nenhum moço, não se espera dele o vigor do passado e nem que no futuro tenha menos idade. Mas é importante ressaltar que tem construído um governo eficiente em meio ao caos, às mentiras mais sórdidas. A economia melhorou consideravelmente, mesmo que ainda longe da perfeição ou dos dois primeiros governos Lula. Até porque, no primeiro governo, Lula recebeu o país das mãos de FHC, com estabilidade econômica num mundo mais estável. Dessa vez, Lula recebeu o país como aquela boneca que raspam o cabelo, quebram a perna e riscam de caneta. Há erros. Há acertos. Só turvando os olhos para no cálculo ver mais erros do que acertos.
A extrema-direita não arrefeceu. Bolsonaro, apesar de inelegível, e seus aliados seguem ativos, espalhando desinformação e minando a democracia. Sem Lula, o campo progressista pode se fragmentar, abrindo caminho para o retorno do bolsonarismo. Por isso, a decisão de Lula sobre 2026 não é somente pessoal — é estratégica para o futuro do Brasil.
Lula não voltou ao Planalto por vaidade ou ambição pessoal. Voltou porque o Brasil precisava dele. Em 2026, a decisão sobre uma nova candidatura requer sacrifícios pessoais. Mesmo havendo nomes competentes em seu governo, como Fernando Haddad (PT), Lula sabe que, mais uma vez, pode ser o único capaz de manter unidos os setores progressistas e democrático e derrotar a extrema-direita. Não é justo tratar Lula como Geni!
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